quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Christian Rizzi/Gazeta do Povo / Prevenção: aumento de policiamento seria um dos motivos para a redução da criminalidade em Foz do Iguaçu Prevenção: aumento de policiamento seria um dos motivos para a redução da criminalidade em Foz do Iguaçu
Violência

Interior do PR tem aumento de homicídios. Foz é a exceção

Londrina, Maringá, Cascavel e Ponta Grossa tiveram aumento de assassinatos. Secretaria de Segurança não reconhece números

Publicado em 06/01/2010 | Gabriel Azevedo, da sucursal, especial para a Gazeta do Povo

Foz do Iguaçu - Foz do Iguaçu, no Oeste do estado, registrou no ano passado o menor número de homicídios da década: foram 172 assassinatos, contra 205 em 2008. A cidade – apontada em anos anteriores como uma das mais violentas do país – não tinha um balanço anual com menos de 200 mortes há oito anos.

Embora a Secretaria de Estado da Segurança Pública ainda não tenha divulgado o balanço oficial da criminalidade no Paraná em 2009, um levantamento da Gazeta do Povo nos IMLs e delegacias de Homicídios mostra que Foz é exceção, quando comparada com as principais cidades do estado.

População ainda se sente insegura

Mesmo com a queda no número de homicídios, Foz ainda tem um número alto de crimes. Nos últimos anos, a cidade tem sido considerada uma das cidades mais violentas do país. No Mapa da Vio­lência dos Municípios Brasileiros, feito pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) – divulgado em 2008 –, Foz aparece em 5.º lugar, com 98,7 assassinatos para cada 100 mil habitantes. A pesquisa foi realizada entre 2002 e 2006.

O Mapa da Violência também coloca Foz do Iguaçu em outra posição de destaque. De acordo com o estudo, a cidade é a recordista brasileira em mortes violentas na faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos. Em 2009, outra pesquisa – feita pelo Ministério da Justiça e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública – aponta Foz como o terceiro município com maior vulnerabilidade juvenil.

Esses estudos ajudam a explicar a sensação de insegurança na cidade. Mesmo que a taxa de homicídios tenha sido reduzida de 98,7 para 54,1 assassinatos a cada 100 mil habitantes, o medo permanece. Segundo uma pesquisa encomendada pela Rede Paranaense de Comunicação (RPC) para o projeto Atitude Foz, para 85% da população a violência está crescendo muito, tornando-se geral.

Na opinião do padre Edivaldo Donato Bernardo, coordenador do Fórum Regional de Segurança Pública de Foz do Iguaçu, a insegurança da população é visível, mesmo com a redução dos crimes de homicídio. “A população, infelizmente, ainda se sente insegura. São condomínios fechados, apartamentos, segurança, grande efetivo de policiais nas ruas. A redução dos crimes, infelizmente, não trouxe a sensação se segurança, de proteção”. (RK)

Assassinatos têm salto de 28% em PG

Maria Gizele da Silva, da sucursal

Ponta Grossa - O número de homicídios em Ponta Grossa é bem menor do que o de Foz do Iguaçu. Mas, em 2009, o município entrou para as estatísticas de crimes no estado com um crescimento espantoso no número de assassinatos: o aumento foi de 28,5%. Comparado a 2007, o número de homicídios aumentou 68,7% no ano que passou.

Em 2007, 32 pessoas foram mor­­tas em Ponta Grossa, enquanto que em 2008 o aumento na violência elevou o número de vítimas para 42; e em 2009, para 54. Entre as mortes, 15 foram motivadas por desavenças antigas entre criminosos e vítimas. Em segundo lugar, com seis casos, aparece o envolvimento com o tráfico de drogas. Os demais assas­­sinatos foram resultado de briga entre vizinhos, entre casais, gangues, vingança e outros motivos. Do total de casos, somente dois foram classificados como latrocínio (roubo seguido de morte).

Para o investigador e chefe do setor, Marco Lustoza, “não há lógica” para explicar o aumento da violência no município. Ele acredita que o crescimento esteja relacionado ao crescimento populacional. “Todo ano a população aumenta, a cidade cresce e os crimes crescem junto”, diz. Ele ainda acrescenta que a lista de vítimas não subiu por um acaso do destino, já que ocorreram muitas tentativas de homicídio no ano passado. “Tivemos o caso de um rapaz que resistiu a 24 facadas no corpo”, acrescenta.

O delegado adjunto da 13.ª Subdivisão Policial em Ponta Grossa, João Manoel Garcia Alonso Filho, ameniza as estatísticas. “O ano de 2009 foi um ano de crises e a situação econômica reflete na criminalidade”, acredita Alonso.

De acordo com os números divulgados pelas próprias subdivisões policiais, com exceção de Foz do Iguaçu, nos maiores municípios do interior do Paraná o número de assassinatos aumentou: isso ocorreu em Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Cascavel.

Em Curitiba, o número de homicídios cresceu 15% em 2009 em relação ao ano passado, segundo balanço do IML da capital. Entre as cidades analisadas, Ponta Grossa foi a que sofreu o maior aumento da violência. Foram 54 mortes no ano passado, 28,5% a mais que no ano anterior, quando 42 pessoas morreram assassinadas.

Na opinião de três sociólogos especialistas em segurança pública, o crescimento da violência no interior é resultado de fatores distintos que, somados, contribuem diretamente para o crescimento da criminalidade e, principalmente, do homicídio.

Para o professor da Univer­sidade do Oeste do Paraná (Unioes­te) José Afonso de Oli­­veira, a violência surge da combinação de quatro ingredientes perigosos. “A desagregação familiar, o fracasso do sistema educacional, o fácil acesso a atos ilegais, como o tráfico e o consumo de drogas, e um estado de violência permanente, sem impunidade”, diz.

A professora do Departamento de Ciências Sociais da Uni­ver­sidade Federal do Paraná (UFPR) Ana Luisa Fayet Sallas explica que um dos combustíveis para o acréscimo de homicídios no interior é a invasão das drogas. “An­­tigamente, tínhamos focos restritos de tráfico e consumo de drogas. Mas o cenário mudou. É possível encontrar drogas no Brasil inteiro, principalmente o crack, que é altamente destrutivo. O consumidor fissurado pode matar e roubar alguém para conseguir R$ 3 para comprar uma pedra. E os traficantes também podem matar por uma dívida insignificante”.

Lindomar Bonetti, professor da Pontifícia Universidade Cató­lica do Paraná (PUCPR), afirma que a violência aumentou à medida que as cidades foram crescendo sem planejamento. “As cidades tidas como regionais, como Londrina e Cascavel, além de concentrarem a produção econômica e o dinheiro, também concentram as desigualdades sociais, as favelas, as drogas, os conflitos familiares. E tudo isso pode explicar o aumento da violência”.

A reportagem levou em consideração apenas os homicídios. Não foram contabilizados os latrocínios e as mortes que aconteceram em confrontos com a polícia.

Foz do Iguaçu

Repressão, investigação, investimentos e mudança de cultura foram as armas usadas pela Polícia em Foz do Iguaçu para combater a violência e, principalmente, os homicídios.

Segundo o titular da Delegacia de Homicídios, delegado Marcos Araguari de Abreu, a redução de homicídios no ano passado não foi um acontecimento isolado, mas gradual. “Há três anos que o número de homicídios está diminuindo”, afirma. O ápice das mortes violentas na fronteira aconteceu em 2006, quando 327 pessoas foram assassinadas. Nos anos seguintes, esses números caíram para 294 e 205, respectivamente.

Alexandre Macorim, delegado-chefe da 6.º Subdivisão Policial, de Foz do Iguaçu, afirma que desde a criação da Delegacia de Homicídios, os resultados em Foz do Iguaçu melhoraram. “Antiga­mente, apenas 11% dos crimes de homicídio eram elucidados, hoje esse número saltou para 50%. Nosso objetivo é terminar 2010 com 80%”.

A criação de um disque-denúncia gratuito e anônimo, a realização de grandes operações policiais, como a Foz Segura, a compra de novas viaturas, o aumento no efetivo da delegacia, a criação de um banco de dados com possíveis futuros alvos de homicídio, tudo isso, diz o delegado-chefe, contribuiu para redução do homicídio na cidade. “Além dos fatores técnicos, os indicadores sociais da cidade também cresceram nos últimos anos e ajudaram na redução dos números”.

Sesp

Procurada pela reportagem para comentar o aumento do número de homicídios nas principais cidades do interior do estado, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) preferiu não se pronunciar.

Por meio de nota, a secretaria afirma que não reconhece os dados levantados pela reportagem e que a Coordenadoria de Análise e Planejamento Estraté­gico está finalizando as estatísticas do crime em todo o estado no ano de 2009.


gazeta do povo 06/01/10 às 07:53

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