terça-feira, 13 de outubro de 2009

Nobel de economia sai para a 1ª mulher


Dois americanos receberam o Prêmio Nobel de Economia por seus estudos de governança econômica, que analisam como empresas ou trabalhadores se associam para resolver problemas provenientes da competição no livre mercado. O prêmio de US$ 1,4 milhão foi interpretado como um alerta da Academia de Ciências Sueca sobre os desdobramentos da crise econômica atual.

Elinor Ostrom, da Universidade de Indiana, primeira mulher a receber o Nobel de Economia, estuda como grupos de pessoas conseguem explorar recursos naturais de forma sustentável, mesmo sem regulação do governo ou privatização. Oliver Williamson, da Universidade da Califórnia em Berkeley, pesquisou como é o processo de decisão dentro das empresas e como, às vezes, isso funciona melhor do que deixar as decisões a cargo do livre mercado.

Em um momento em que o mundo se vê entre dois extremos - de um lado, a demonização do livre mercado como o causador da atual Grande Recessão, e de outro, a opção por grande intervenção do governo para corrigir as deficiências - , o prêmio mostra que há outros agentes e opções que não são nem o livre mercado irrestrito, nem a enorme expansão do papel do governo na economia. Segundo o comitê premiador, essa dualidade mercado-governo é simplista demais e há outras interações entre outros agentes: "Os dois pesquisadores nos ajudaram a entender as instituições fora do mercado, que não são parte do governo".

O prêmio a Elinor Ostrom, da Universidade de Indiana, causou surpresa. Ela é formada em ciência política e é pouco conhecida em círculos econômicos. "É parte da fusão das ciências sociais", disse Robert Shiller,professor de Economia em Yale. "A economia estava muito isolada e esses prêmios de hoje comprovam que há uma posição mais esclarecida agora. Nós estávamos muito presos à teoria de que os mercados sempre são eficientes." Elinor pesquisou como os recursos naturais, como florestas, estoques de peixes, lagos ou a natureza, podem ser protegidos mesmo sem regulamentação do governo ou privatização. Sua pesquisa desafiou o conceito da "tragédia dos comuns" - segundo a qual bens comuns e o meio ambiente são destruídos porque os indivíduos levam em conta apenas os próprios interesses, sem considerar efeitos negativos de suas ações sobre os outros.

Mas Elinor mostrou que, em muitos casos, grupos de pessoas se organizam e conseguem explorar de forma sustentável os recursos naturais, mesmo sem intervenção do governo. Isso ocorre porque, com o tempo, as pessoas formam redes e instituições que desenvolvem maneiras para lidar com os problemas. Pescadores de lagostas no Maine, por exemplo, se juntam para regular informalmente a pesca do crustáceo, para que não haja esvaziamento de estoques. A pesquisa, disse ela, é relevante para lidar com questões como o aquecimento global.

Oliver Williamson, da Universidade da Califórnia em Berkeley, recebeu o prêmio por suas pesquisas sobre o processo decisório dentro das empresas, e porque muitas vezes é melhor deixar uma decisão a cargo da empresa do que do livre mercado. "Economistas costumavam encarar as empresas como uma caixa preta, e não olhavam dentro delas", disse Williamson. "Nós abrimos a caixa preta." Williamson estudou como as decisões são tomadas dentro da empresa. A abordagem é diferente do estudo econômico habitual, que encara empresas como entidades únicas onde o processo decisório é desimportante diante da decisão em si. Segundo Paul Krugman, que recebeu o Nobel no ano passado, o prêmio deste ano é um reconhecimento para a importância da chamada "nova economia institucional", que combina economia, direito, sociologia, ciência política e antropologia para compreender como as instituições (indivíduos, empresas, mercado e grupos) surgem, interagem, mudam e como devem ser reformadas e reguladas. "As tentativas de replicar em modelos o comportamento das empresas multinacionais se baseia nas ideias de Williamson", disse Krugman. No caso de Elinor, "é crucial saber que há uma maior variedade nas instituições, um gama mais ampla de estratégias que funcionam, e não a simples divisão binária entre indivíduos e empresas".

Patrícia Campos Mello, WASHINGTON
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091013/not_imp449688,0.php 13/10 às 10:00h

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