quinta-feira, 4 de março de 2010

Centenário de Tancredo Neves é lembrado nesta quinta-feira

DANIEL RONCAGLIA
colaboração para a Folha Online

Se estivesse vivo, o advogado e empresário mineiro Tancredo de Almeida Neves (1910-1985), presidente, governador, senador, deputado e vereador, completaria 100 anos nesta quinta-feira. Presidente símbolo da redemocratização depois do regime militar (1964-1985), Tancredo morreu sem assumir o cargo em 21 de abril de 1985.

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Com José Sarney na vice-presidência, ele foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985, por 480 votos contra 180 recebidos pelo deputado Paulo Maluf. Depois de sete cirurgias e 35 dias de internação, a morte de Tancredo gerou longa comoção nacional em um momento sensível da história política do país.

A força e o simbolismo político de Tancredo ficaram evidentes ontem, quando o Senado foi palco de uma série de discursos de políticos de diversos partidos em homenagem ao seu centenário. Uma estátua de Tancredo foi colocada no salão Nobre do Senado.

O cientista político Rogério Bapstistini, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, afirma que Tancredo era um político com duas qualidades: astúcia e prudência. "Isso fazia dele um político com visão excepcional dos problemas com capacidade de articular as forças em questão", diz.

Especialista em pensamento político brasileiro, Bapstistini afirma que Tancredo foi um político da velha guarda. "Era um político do tempo em que cabia ao Estado organizar a nação", explica o cientista político, lembrando que Tancredo teve uma trajetória marcada pela conciliação.

Para ele, a morte de Tancredo permitiu que "forças conservadoras", representada na figura de Sarney, dessem as coordenadas da redemocratização. "Talvez isso tenha selado o destino posterior da abertura democrática", diz.

No Congresso desde 1975, o deputado Mauro Benevides (PMDB-CE) afirma que foi amigo pessoal de Tancredo desde quando ele ajudou na sua primeira eleição ao Senado. "Recordo a serenidade com a qual Tancredo encarava os fatos emergentes para oferecer soluções", afirma.

Em 1977, durante o governo Ernesto Geisel, Benevides diz que Tancredo tentou uma saída de meio termo à proposta do regime militar de reforma política e do Judiciário. "Ele não queria que partíssemos para gestos extremos."

No entanto, ele foi vencido na recusa aos projetos do Executivo, o que levou o fechamento do Congresso por 20 dias e à criação dos senadores biônicos. "Tancredo era sempre aquele homem da ponderação, de conduta serena e de fidelidade aos princípios. Sempre foi um sábio na matéria de conduzir gestões", diz.

Herdeiro político de Tancredo, o governador Aécio Neves (PSDB) afirmou ontem, em discurso no Senado, que seu avó se sentia mais feliz quando fazia um acordo do que quando derrotava um adversário.

"Sabia ele que dividir, antagonizar, aprofundar diferenças e intransigências são sempre tarefas fáceis. E também é o caminho mais eficaz para transformar dificuldades em impasses instransponíveis. O difícil é construir o rumo e as bases para o caminho comum. É conciliar as diferenças em torno de objetivos maiores", afirmou o governador de Minas.

Para o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB, deputado Eliseu Padilha (RS), Tancredo era um homem permanente aberto ao diálogo. "Um temperamento dócil, mas um guerreiro permanente das ideias da democracia, da participação popular e da resolução dos problemas da sociedade."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u701881.shtml

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