terça-feira, 27 de março de 2012


Silvana Bárbara G. da Silva - Blogueiras Feministas
Como primeira vez que escrevo para o blog, começo com um tema que já há muito tempo me incomoda, que é a questão das mulheres na militância política e ao machismo que enfrentam neste meio. Milito em movimentos sociais e muitas vezes é claro que as conquistas das mulheres são inferiores as dos homens, mesmo que a luta seja pelas mesmas razões.
O movimento das mulheres por igualdade é um processo que tem raízes no passado e que se constrói no quotidiano, e como todo processo de transformação, apresenta contradições, avanços, recuos, medos e alegrias. Este movimento assume grande posição num momento histórico em que outros movimentos de libertação denunciam a existência de formas de opressão, como movimento negro e outras minorias étnicas, ecologistas e homossexuais.
Capa do livro "Mulheres e Movimentos, de Claudia Ferreira e Claudia Bonan
Como a maioria das relações entre as pessoas têm um certo poder e hierarquia, as mulheres procuraram, no início de suas lutas, superar as formas de organização tradicionais, veiculadas pelo autoritarismo.
Houve poucas mudanças na vida das mulheres ao longo da história, sendo que estas somente se tornaram reais através do trabalho de militância das próprias mulheres. Muitos militantes, principalmente no início do século passado, tinham uma visão completamente distorcida da inserção das mulheres nos movimentos sociais, sendo que muitas tiveram que formar movimentos e sindicatos femininos.
Através do aumento das mulheres no mercado de trabalho, na década de 70, houve também um aumento bastante significativo das mulheres que reivindicavam melhores condições de trabalho, engajando-se e mostrando à sociedade que sempre as oprimiram, sua capacidade incorporação nas lutas.
Iniciou-se também um processo de vários encontros de mulheres de várias categorias e ideologias, com grande participação do movimento feminista, dando mais visibilidade ao trabalho de militância das mulheres com relação ao mercado de trabalho. Estes encontros também serviram para enfrentar toda a corrente machista infiltrada nos movimentos sociais.
É fato, tirar a conclusão de que a maioria dos homens ainda são machistas porque a sociedade, e até mesmo a cultura e exemplos da natureza (como os dos animais) os cobram este perfil. Também é imprescindível levar em consideração que os homens têm mais tempo para o lazer, tomam atitudes de violência com relação às mulheres, e ocupam a maioria dos espaços de poder. É neste contexto que se estabelece o Feminismo como movimento político.
No Brasil, no que se diz respeito ao debate sobre igualdade entre homens e mulheres, hoje está restrito às academias e as práticas se limitam às ONGs, com reivindicações onde o Estado é omisso.
Com uma bateria improvisada, mulheres fazem manifestação pela legalização do aborto (Foto: Maria Angélica Oliveira/G1)
Acredita-se que a crise econômica e o desemprego possam ser fatores de desmobilização, como um processo de descrença nas mobilizações populares. Mesmo que a mulher esteja participando do mercado de trabalho, as relações sociais continuam veiculadas ao gênero. Homens e mulheres são inseridos no mercado de trabalho por diferenças, como por exemplo, as diferenças salariais, tão marcantes no Brasil.
A academia tem um papel importante nas novas abordagens de discussão de gênero. Grupos de trabalho em várias instituições do país debatem as relações de gênero em várias áreas das disciplinas.
Os movimentos sociais hoje abrangem realidades muito diversas. Os movimentos feministas tornam-se movimentos sociais atuantes quando identificam formas de opressão que vão além das relações de produção e abrangem questões mais amplas como meio ambiente, qualidade de vida, cultura patriarcal, desigualdades de gênero e outras que questionam os problemas sociais encontrados. O estudo destes movimentos faz-se chegar a uma abordagem mais específica, identificando as pessoas envolvidas no movimento, suas práticas e objetivos, sem desconsiderar as restrições de estrutura e conjuntura sofridas por elas.
Por exemplo, no Brasil, poucos geógrafos procuram analisar o espaço através das relações de gênero, através do tema Mulher e Trabalho, como a mulher na lavoura. Alguns fizeram este trabalho, mas sem teoria consistente e continuidade necessária.
O movimento de luta das mulheres se constrói a partir das resistências, derrotas e conquistas, fatores sempre presentes na história da mulher. Sempre buscando a superação das relações de hierarquia entre homens e mulheres, está ao lado de todos os movimentos que lutam contra a discriminação em suas diferentes formas.

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