Pleno emprego” aparece no radar de 2010
Especialistas apontam que país atingirá no ano que vem a menor média de desemprego da atual série histórica
Publicado em 22/11/2009 | André Lückman, Franco Iacomini e Guido Orgis
O mercado de trabalho do Brasil mudou estruturalmente nos últimos anos. Diversificou-se, com o setor de serviços crescendo e ganhando sofisticação. Tornou-se mais formal e passou a contratar mais. Neste ano, a reação à crise com a criação até outubro de mais de 1 milhão de vagas formais não deixa dúvidas de que existe uma tendência consistente de melhora nos indicadores de emprego. Alguns analistas inclusive preveem que 2010 terá o menor índice médio de desemprego da série histórica iniciada em 2002 pelo IBGE.
“Dentro da série histórica, estamos prevendo nível de desemprego em recorde de baixa no ano que vem”, diz o economista-chefe do HSBC, André Lóes. A estimativa para 2010 é de uma média de 7,7%, com o índice caindo para menos de 7% em dezembro de 2010 – a média de 2009 até outubro, foi de 8,3%. Para Lóes, esses números indicam uma trajetória próxima do que se convencionou chamar de pleno emprego – uma espécie de ponto de equilíbrio no qual há a sensação de que existem postos de trabalho para todos.
Entre os efeitos esperados quando se cria um mercado de trabalho mais robusto estão a queda do índice de desemprego e o aumento dos salários. “Com mais empregos, podemos esperar uma elevação da renda média. Isso representa um custo maior para as empresas, mas tem o efeito de melhorar a qualidade de vida das pessoas e aumentar o consumo”, destaca o economista Ricardo Amorim, que também prevê os menores números de desemprego da série histórica em 2010. Segundo dados do HSBC, nos últimos quatro anos a renda real (descontada a inflação) no Brasil aumentou 13%.
A evolução no mercado de trabalho é resultado de uma combinação de crescimento nos investimentos, que geram as vagas, com políticas que embasaram o aumento da renda e do consumo, como a correção do salário mínimo. Em conjunto, eles criam um ciclo virtuoso, segundo o professor de economia do trabalho da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Luiz Alberto Esteves. “Também não se pode ignorar o ganho real que as maiores classes sindicais conquistaram neste ano”, diz. “Os metalúrgicos, por exemplo, surpreenderam. Esse movimento dá mais tranquilidade para os outros setores pleitearem ganhos semelhantes no próximo ano”, diz.
O professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) José Dari Krein lembra que, nos anos 90, prevaleceu a tese de que o governo não podia elevar o salário mínimo porque iria piorar os índices de inflação e informalidade. “Essa tese enfim caiu, as evidências empíricas não provaram os efeitos perversos previstos. Pelo contrário, o aumento do mínimo foi essencial à recuperação do ganho real, fortalecimento das convenções coletivas e aumento na formalização do mercado de trabalho”, diz.
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* Desemprego caminha para menor média da atual série histórica em 2010
Empresas disputam pessoas qualificadas
O mercado de trabalho tem tudo para manter sua expansão em 2010, o que vai agravar um problema que foi sentido pelas empresas pouco antes do início da crise: a falta de mão de obra qualificada. A saída encontrada por diversas companhias tem sido assumir os custos de capacitação dos seus funcionários. Em alguns casos, a alternativa é contratar estrangeiros.
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Trabalho
Imigração vai acompanhar crescimento
A falta de qualificação dos trabalhadores brasileiros é resultado do problema histórico e estrutural da educação do país, e o principal gargalo de desenvolvimento em médio e longo prazo. Um dos resultados dessa deficiência é que no próximo ciclo de crescimento econômico é bastante provável que as empresas brasileiras tenham de contratar mais estrangeiros.
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Inflação
Apesar de o aumento geral na renda ser um indicador positivo, ele embute um risco: inflação. Há duas razões para o temor. O primeiro é que a renda reforçada faça com que a demanda ultrapasse a oferta de produtos no mercado, o que pode levar a aumentos de preços. A segunda é que a escassez de mão de obra qualificada acelere reajustes que aumentem demais os custos das empresas. “Se houver sinalização de inflação, certamente o Banco Central vai querer esfriar a demanda com o aumento dos juros. Em casos mais extremos, o próprio reajuste dos sindicatos passaria a ser monitorado pelo BC”, diz Esteves.
Por enquanto, a tendência inflacionária é afastada pelos especialistas. “É possível que se sinta um pouco de pressão sobre os preços por causa dos aumentos nos salários, mas não deve ser um problema porque o dólar deve continuar derretendo. Isso reduz os preços das importações e permite que a demanda seja atendida sem problemas”, diz Amorim.
O supervisor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Paraná, Cid Cordeiro, também descarta uma aceleração da inflação. “Não acredito em reajustes de preços por causa da tendência de câmbio desvalorizado, o que permite a continuidade da entrada de produtos estrangeiros. Isso repercute na manutenção da inflação dentro da meta”, diz. Além disso, a pressão criada por aumentos de salários deve ser absorvida por investimentos na expansão da capacidade produtiva e pelo ganho de produtividade da economia. “Vai haver tempo suficiente para que os investimentos amadureçam e sustentem a nova demanda em médio e longo prazo”, avalia Cordeiro.
Lóes, do HSBC, ressalta que a confiança empresarial vem aumentando fortemente e, em agosto, ficou próxima dos níveis pré-crise, superior à média histórica medida pela Fundação Getulio Vargas. Isso reforça a tese de que haverá investimentos para responder à demanda.
GAZETA DO POVO 22/11 ÀS 9:55h
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