sexta-feira, 30 de março de 2012


Medicamento que reduz risco de progressão da doença pode chegar ao mercado até o fim deste ano. Substância aumenta em 50% a sobrevida esperada. Para as doenças cardíacas, promessa é remédio que elimina gordura da parede dos vasos sanguíneos

» Carolina Cotta*
Publicado no Correio Braziliense em  28/03/2012 02:00

Basileia, Suíça –
 Um grupo específico de pacientes com câncer de mama terá uma opção a mais no tratamento da doença. O anticorpo monoclonal pertuzumabe teve seu status elevado ao nível de prioridade pelo Food and Drug Administration (FDA), órgão responsável pelo controle de alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, o que pode acelerar sua chegada ao mercado, prevista para o início do segundo semestre. Quando uma droga recebe prioridade, a chance de sua aprovação ser mais rápida é maior.

Em estudo publicado na edição on-line do New England Journal of Medicine, o tratamento com pertuzumabe em pacientes com câncer de mama metastático HER2 positivo elevou de 12,4 para 18,5 meses a sobrevida livre de progressão da doença. As pacientes que receberam pertuzumabe em combinação com trastuzumabe e quimioterapia apresentaram redução de 38% no risco de progressão da doença ou morte.

Em Minas Gerais, o medicamento foi um dos temas discutidos no Encontro Mineiro de Câncer de Mama, realizado em Ouro Preto, na semana passada. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia — Regional Minas Gerais, João Henrique Penna Reis, esse tipo de medicamento, que funciona como uma droga-alvo, é uma tendência no tratamento da doença, por ter ação restrita ao defeito genético de nível celular que levou à enfermidade.

“À medida que os mecanismos moleculares que levam as células a se comportarem de maneira desregulada vão sendo descobertos, temos a chance de usar medicamentos confeccionados especificamente para o que se comporta de forma crítica. O resultado é positivo e os efeitos são reduzidos”, afirma o especialista, para o qual o tratamento personalizado, com a conduta terapêutica sendo baseada no perfil genético molecular do tumor, é uma tendência.

De fato, a medicina personalizada é um caminho sem volta. Isso porque nenhum tratamento é 100% eficaz, podendo variar, normalmente, de 20% a 70%. Identificar o melhor medicamento para cada paciente não só produz o efeito benéfico esperado como também evita efeitos adversos. Para o brasileiro Everson Nogoceke, líder na área de medicina experimental e biomarcadores do laboratório Roche, a medicina moderna precisa observar características de cada paciente para dar segurança e o benefício esperado.

O que hoje determina essa maior assertividade dos tratamentos é o conhecimento da biologia moderna. “A medicina personalizada identifica um biomarcador, uma característica bioquímica ou genética que determina se aquele paciente vai receber esse ou aquele medicamento. A ideia é ajustar o paciente ao tratamento usando os biomarcadores”, acrescenta Nogoceke. 

Mais precisão

Essa realidade, entretanto, exige uma mudança não só na forma de tratar, mas também no diagnóstico. A medicina personalizada, hoje concentrada no tratamento de doenças oncológicas, vai exigir um maior entendimento da diversidade e dos subtipos das doenças, assim como das diferenças entre os pacientes. Também será essencial identificar os melhores alvos de cada medicamento. “Descobrindo, por exemplo, a proteína que está desregulada e assim provocando a doença, é possível desenvolver um remédio específico para que esse processo seja normalizado”, explica Everson Nogoceke.

Fazer tratamentos personalizados, entretanto, requer também diagnósticos mais aprofundados. A tecnologia mudou muito desde o sequenciamento do genoma, que hoje pode ser feito em uma semana por US$ 10 mil (o equivalente a R$ 18 mil) e, no futuro, poderá ser realizado em poucas horas e por um preço mais acessível. “Isso vai propiciar o entendimento de como os genes determinam nossa resposta a um tratamento. A medicina, que começou observacional, vai partir de uma compreensão muito mais ampla da doença e de quem está sendo tratado”, diz o especialista em biomarcadores.

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