quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sentimento de posse motiva crimes contra mulheres, dizem especialistas

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lourdes-bandeira2Paula Filizola - Correio Braziliense

“Se você não vai ficar comigo, também não vai ficar com mais ninguém.” É a partir dessa afirmação que casos como o da estudante Suênia Sousa Faria acontecem. Segundo especialistas ouvidas pelo Correio, a ideia de posse e de pertencimento é o que motiva homens como o professor Rendrik Vieira Rodrigues a cometerem crimes contra as mulheres que supostamente amam. “Ele prefere estragar a própria vida matando a menina do que saber que ela está com outra pessoa. Na verdade, eles pensam que amam essas mulheres, mas as enxergam como objetos sobre os quais podem exercer todo o seu controle”, avaliou a professora da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres da mesma instituição, Lourdes Bandeira.



A professora da UnB afirma que esses homens revelam indícios de personalidade controladora. Eles perguntam onde a mulher foi, com quem, com que roupa e, muitas vezes, querem monitorar até o que elas pensam. “O grande problema é que essas pessoas são aparentemente normais, mas internalizam valores sexistas e ofensivos contra as mulheres”, explicou a especialista.

Para a promotora de Justiça de Violência Doméstica, em Cuiabá (MT), Lindinalva Rodrigues, a maioria das mulheres não denuncia o comportamento violento do parceiro porque tem medo e subestima as ameaças. “Elas nunca acreditam que o homem que amam ou amaram vai ter coragem de cometer um crime”, argumenta.

De acordo com dados apresentados por Lindinalva, a história se repete em 99% dos casos de violência contra as mulheres. “É um ciúme obsessivo. Esses homens se sentem donos de suas parceiras”, analisou. Ela ainda relatou que 77% dos ataques ocorrem quando a mulher decide romper o relacionamento.

Demitido e processado

A assessoria de comunicação do UniCeub informou que o professor Rendrik Vieira Rodrigues será afastado da instituição amanhã. Em nota, a universidade declarou estar “profundamente consternada” com a morte de Suênia Sousa Faria e colocou-se à disposição da família da jovem. A Faculdade Projeção, onde o professor era coordenador de direito, anunciou que ele será “imediatamente demitido e substituído”. Rendrik Vieira Rodrigues começou o curso de direito na UDF em 1997, aos 22 anos. Após se formar, em 2003, fez especializações em direito civil e em direito do trabalho, além de um MBA em gestão de negócios. Estava cursando mestrado em gestão empresarial na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Utad), em Portugal. A OAB-DF divulgou nota lamentando a tragédia. De acordo com a entidade, o Tribunal de Ética e Disciplina da instituição vai instaurar amanhã um processo contra o advogado, que poderá ser suspenso preventivamente e impedido de exercer a profissão.

O grande problema é que essas pessoas são aparentemente normais, mas internalizam valores sexistas e ofensivos contra as mulheres”
Lourdes Bandeira, professora e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres da UnB
Crime fútil e sem chance de defesa
Professor acusado da morte da estudante de direito Suênia Sousa Farias responderá a processo por homicídio qualificado. As duas instituições de ensino superior onde ele dava aulas de direito devem afastá-lo hoje das funções


LUCAS TOLENTINO

Publicação: 03/10/2011 02:00

O marido de Suênia, Hélio Prado, depositou uma faixa com frase do poeta português Fernando Pessoa no túmulo da companheira (Breno Fortes/CB/D.A Press)
O marido de Suênia, Hélio Prado, depositou uma faixa com frase do poeta português Fernando Pessoa no túmulo da companheira

O assassinato da estudante de direito Suênia Sousa Farias, 24 anos, deve ser enviado à Justiça nos próximos dias. A previsão da 27ª Delegacia de Polícia (Recanto das Emas) é que o inquérito fique pronto amanhã. Depois que o professor Rendrik Vieira Rodrigues, 35, acabou preso em flagrante por matar a ex-aluna com três tiros, as equipes da unidade dão como praticamente encerrados os trabalhos. Na última sexta-feira, o acusado se apresentou na unidade policial, entregou o corpo da jovem e confessou tê-la matado (leia Entenda o caso). Ele responderá por homicídio duplamente qualificado (por motivo fútil e mediante a impossibilidade de defesa da vítima).

O enterro da jovem aconteceu ontem no Cemitério de Taguatinga. E hoje as duas instuições onde Rendrik dava aula devem demiti-lo. Além disso, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no DF vai instaurar um processo ético-disciplinar, que poderá resultar na suspensão do direito de Rendrik atuar como advogado.

Existe a possibilidade de que mais depoimentos sejam colhidos. Até agora, os investigadores ouviram o acusado e a amiga de Suênia que a viu minutos antes da morte, além do marido e da irmã da estudante. O delegado Ulysses Campos Neto, que acompanhou o caso na madrugada de sexta-feira para sábado, afirmou que pretende finalizar o relatório policial até amanhã e encaminhá-lo à Justiça. “O inquérito ficou concluído no ato do flagrante. A finalidade dele (Rendrik) era matar. Ficou bem caracterizado o homicídio, a intenção. Ele relatou tudo e contribuiu para a investigação”, afirmou. Campos ressaltou ter 10 dias para elaborar o documento, a contar da data do crime.

A tragédia começou a se concretizar quando Suênia rompeu com Rendrik e decidiu reatar o relacionamento com o marido, Hélio Prado. Inconformado com o fim do romance, o acusado ameaçava a estudante e, à polícia, afirmou ter comprado uma pistola calibre .380 há cerca de duas semanas como forma de se “defender”. Os familiares da vítima contaram que, nos últimos dias, os telefonemas agressivos se tornaram mais frequentes.

Habeas corpus

A pena que Rendrik terá de cumprir pelo homicídio varia entre 12 e 30 anos de prisão (leia O que diz a lei). O delegado Ulysses descartou o indiciamento dele por sequestro, por mais que ele tenha abordado Suênia quando ela saía do UniCeub, onde cursava o 7º semestre de direito. “A vítima foi conversar com ele (Rendrik) por vontade própria. A testemunha que estava com ela na hora disse isso. Dentro do carro, durante o trajeto, é que as coisas mudaram”, explicou. O laudo pericial do carro em que ocorreu o crime, o Sandero do marido de Suênia, deverá ser enviado mais tarde ao Judiciário.

O professor conhece um dos delegados da 27ª DP e telefonou para ele assim que deu os três tiros, no peito e na cabeça da ex-aluna. O plantonista da unidade Jonas Maraca afirmou ontem ao Correio que Rendrik entrou em contato com o amigo policial e disse que precisava conversar. Ao entrar na delegacia do Recanto das Emas, o assassino comentou ter feito “uma besteira” e mostrou o corpo da jovem. Aos agentes, Rendrik teria dito que tomou calmantes para não se matar.

A defesa do acusado não quis comentar o caso. Por enquanto, o assassino continua detido no Departamento de Polícia Especializada (DPE). O advogado dele, Andrew Farias, explicou que discutia as estratégias com os demais defensores no início da noite. Perguntado sobre a possibilidade de pedido de habeas corpus, Andrew afirmou estar em análise. “A gente está deliberando sobre o que será feito”, limitou-se a dizer.

O assassino deve ser afastado das funções oficialmente hoje pelo UniCeub e pela Faculdade Projeção, onde ele era coordenador. Com medo das ameaças constantes do professor, Suênia teria alertado na última segunda-feira o reitor do UniCeub, Getúlio Américo Lopes. “Ela me disse que mostrou mensagens para o reitor e ele mandou registrar as ameaças porque só poderia fazer alguma coisa se tivesse um documento”, comentou Cilene Farias, uma das irmãs da vítima.

A assessoria de imprensa do UniCeub informou não haver registro de que Suênia tenha entrado em contato com o reitor, uma vez que as pessoas interessadas em falar com ele passam por uma triagem. Também não há reclamação contra o educador na Ouvidoria e na coordenação da instituição. A assessoria ressaltou que o reitor negou ter tido qualquer conversa informal com a jovem. (Colaborou Mara Puljiz)

Corpo de estudante assassinada é enterrado no cemitério de Taguatinga

Mara Puljiz

Roberta Abreu

Correio Braziliense Publicação: 02/10/2011 14:59 Atualização: 02/10/2011 17:15

 (Breno Fortes/CB/D.A Press)

O corpo da estudante de direito Suênia Sousa Farias, 24 anos, morta a tiros pelo professor na sexta-feira (30/9), foi enterrado no início da tarde deste domingo (2/10) no Cemitério de Taguatinga. Sob forte emoção, cerca de 100 pessoas, entre parentes e amigos, participaram da cerimônia.

O pai de Suênia o produtor rural Sinval Monteiro de Farias, que vive em Formosa, falou sobre a violência. "Um homem jamais pode abusar de uma mulher. Ela é a pedra mais preciosa que existe", disse, emocionado. A irmã da estudante, Cilene Sousa Farias, 34, gritava por Justiça durante o enterro. "Minha irmã queria ser juíza. Vou torcer para que algum juiz faça algo por ela para que esse crime não fique impune", disse, aos prantos.

O professor de direito Rendrik Vieira Rodrigues, 35, permanece na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE).

Crime
Suênia foi morta com dois tiros na cabeça e um no tórax disparados pelo professor de direito pouco depois de sair da faculdade, por volta das 13h30 da sexya-feira (30/9). Segundo depoimento de familiares, a moça se envolveu com Rendrik por um período de dois meses em que esteve separada do marido. Há três meses ela reatou o casamento e passou a receber ameaças do professor, que não aceitou o fim do relacionamento.

Rendrik esperou a universitária sair da faculdade, na Asa Norte, entrou no carro da moça e seguiu com ela em direção à Estrutural. Segundo o delegado Alexandre Nogueira, chefe da 27ª Delegacia de Polícia, no Recanto das Emas, os disparos podem ter ocorrido com o carro em movimento. Após rodar por horas com o corpo dentro do carro da vítima, o professor foi para a 27ªDP e se entregou.

Parentes e amigos acompanharam o velório de Suênia, morta a tiros pelo professor de direito Rendrik Vieira Rodrigues (Breno Fortes/CB/D.A Press)
Parentes e amigos acompanharam o velório de Suênia, morta a tiros pelo professor de direito Rendrik Vieira Rodrigues

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Universidade nega que aluna morta no DF tenha registrado ameaças

Familiares e amigos dizem que aluna fez reclamação à reitoria.
Universidade diz que não há registro de queixa feita pela estudante.

Naiara LeãoDo G1 DF

O UniCEUB, universidade de Brasília onde estudava Suênia Souza Farias, 24 anos, morta por um professor na sexta-feira (30), negou nesta segunda (3) que soubesse que a aluna vinha sendo perseguida e ameaçada pelo professor Rendrik Vieira Rodrigues, 35. Ele é acusado de matar a aluna a tiros por não aceitar o fim de um relacionamento amoroso.

No enterro do corpo da estudante na tarde de domingo (2), familiares e amigos de Suênia disseram que ela havia registrado uma reclamação na reitoria sobre o comportamento do professor.

“Ela a ameaçava por telefone, pessoalmente, a seguia em todo lugar. Ela não prestou queixa na polícia, mas falou com a faculdade”, disse a prima Vanessa dos Santos. “Ela estava incomodada e procurou a reitoria”, afirmou a amiga Gioconda Jaccoud.

O UniCEUB informou, por meio de sua assessoria, que não há registro de nenhuma queixa da estudante na ouvidoria da universidade. O reitor Getúlio Lopes disse que não foi procurado por Suênia para conversar sobre o assunto.

No sábado, o UniCEUB disse que o professor será desligado da instituição nesta segunda. A Faculdade Projeção, onde Rodrigues atuava como coordenador do curso de direito, também divulgou nota dizendo que ele seria “demitido e substituído imediatamente”.

Entenda o caso
Segundo a Polícia Civil, Rodrigues e Suênia teriam se conhecido no UniCEUB, onde ele lecionava e ela estudava. O relacionamento teria durado três meses, período em que ela estava separada do marido.

Insatisfeito com o fim do namoro, o professor pediu na sexta-feira para conversar com a estudante, e os dois saíram de carro, de acordo com os policiais.

A polícia afirma também que Rodrigues disse em depoimento que alvejou a ex-namorada com três tiros. “Segundo a versão dele, foi no ímpeto, durante a discussão, que ele resolveu reagir dessa forma”, disse o delegado Ulysses Campos Neto.

Após o crime, Rodrigues levou o corpo até a Delegacia de Polícia de Recanto das Emas, na periferia do Distrito Federal, e se entregou.

http://www.feminismo.org.br/livre/index.php?option

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