Ensino
Quarta-feira, 21/10/2009
A difícil missão de ser educador
Com a defasagem dos cursos de graduação e as constantes transformações do ambiente escolar, fazer um bom trabalho dentro da escola envolve dedicação e estudo constantes
Publicado em 21/10/2009 | Anna SimasPara a professora do departamento de educação da Universidade de Campinas (Unicamp), Maria Márcia Malavasi, o professor ideal para os tempos atuais deve ter passado por um bom curso de graduação, com projeto pedagógico consistente, que forneça cultura ampla e não fique restrito aos conteúdos disciplinares. “A continuidade dos estudos é fundamental. Um bom professor jamais poderá deixar de ler, de fazer cursos e frequentar palestras”, explica.
Retrato
Veja alguns indicadores do perfil do professor no Brasil:
> 61,7% são graduados com licenciatura.
> 6,8% não têm licenciatura.
> 38 anos é a média de idade do professor da educação básica (ensino fundamental e médio).
> 82,1% dos professores cursaram Magistério no ensino médio.
> 29,2% são formados em Pedagogia.
> 11,9% são formados em Língua Portuguesa; 7,4% em Matemática; 6,4% em História.
Fonte: Censo Escolar da Educação Básica 2007
Aprendizado diário com os alunos
Um professor não se forma apenas nos bancos das universidades. Isso é consenso entre os profissionais e educadores. Mas o que se busca hoje é uma boa formação continuada aliada à experiência que se ganha a cada dia com o contato direto com os alunos. No Brasil, 68,5% dos professores têm formação superior, apesar de isso, segundo especialistas, não ser garantia de bom desempenho profissional.
Com baixos salários e pouca valorização da profissão no país, é comum que o professor não se sinta estimulado a se capacitar, segundo Maria Márcia. Para ela, essa é uma competência do estado, que deve proporcionar pós-graduação para seus professores, além de assinar jornais e revistas para que eles tenham acesso à cultura e informação.
Saber lidar com a diversidade também é um ponto fundamental para ser um bom professor. Diferenças físicas, sociais e culturas estão mais do que nunca presentes na sala de aula, e a graduação não consegue contemplar todos os problemas que o profissional vai enfrentar durante o exercício da profissão. “Precisamos de faculdades que consigam levar em conta a realidade da comunidade na hora de formar educadores. Mas, infelizmente, a maioria não consegue fazer isso”, diz Márcia.
Mas a graduação não é a única responsável pela formação do professor. De acordo com o professor do departamento de educação da Universidade de São Paulo (USP), Ocimar Munhoz Alavarse, não adianta culpar as faculdades nem os professores pelos fracassos em sala de aula. “Temos que pensar em quais condições esses profissionais trabalham, levando em conta que 90% dos educadores do país atuam em escolas públicas. Nelas as condições são muito adversas, e isso é um fator desestimulante.”
Para os especialistas, por mais que os cursos de formação sejam eficientes, eles não conseguiriam dar conta de toda a formação, já que a prática docente é complexa e não pode ser reproduzida na faculdade. “Dar aula é um fazer que se aprende ao longo dos anos. Os quatro anos de graduação não bastam. Quanto maior a aproximação do estudante de pedagogia ou licenciatura com a sala de aula, melhor”, diz Alavarse.
Esforço dobrado
O acesso das crianças e jovens à informação cresceu aceleradamente com a internet, o que requer do professor uma velocidade de atualização tão grande quanto a de seus alunos. O tempo disponível para os dois lados não é o mesmo, mas para ter um bom desempenho é preciso correr atrás. É o que faz Andrea Louise Melzer, professora de educação infantil da Escola Santa Terezinha do Menino Jesus, em Curitiba. Ela dá aula para crianças de 5 anos e conta que muitas vezes foi questionada sobre assuntos que não tinha conhecimento. “Às vezes eles me perguntam sobre o que assistiram na televisão ou viram na internet e que eu não tinha a menor ideia. Eu falo que vou procurar para discutirmos depois ou peço que eles me contem”, diz a professora.
Além disso, ela, mesmo sem ter filhos em casa, procura ver desenhos e outros programas que sabe que são do interesse dos seus alunos. Além da formação de pedagoga, cursou Magistério e fez especialização. A larga experiência lhe mostrou a importância do diálogo em sala. Todo dia, antes do início da aula, ela senta em roda com os alunos e deixa que cada um fale um pouco de si. “Eles trazem para a sala problemas que os afligem, questões normais do dia a dia. É uma boa forma de abordar assuntos fora do programa de aula, mas que são fundamentais para a vida deles”, conta Andrea.
Pequenos escritores se inspiram nas aulas
Crianças e jovens se dedicam à publicação de livros de diversos gêneros em Curitiba
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