Pai: Fiz minha parte, coloquei meu filho na escola e o governo não cuidou da segurança dele.
O garoto Wesley Gilbert Rodrigues de Andrade, 11 anos, que morreu sexta-feira (16) depois de levar um tiro de fuzil quando assistia a uma aula de matemática no Ciep Rubens Gomes, em Costa Barros, periferia do Rio de Janeiro, viria morar em Pernambuco no fim do ano.
A avó paterna do menino, Severina Gomes da Silva, 54 anos, disse nesse sábado (17) que estava só esperando o ano letivo acabar para trazê-lo para residir com a família, no bairro de Jatobá, em Olinda.
No momento do disparo que matou o garoto, policiais do 9º Batalhão da PM enfrentavam traficantes do Morro da Pedreira, que fica a 200 metros da escola. “Meu filho Ricardo, pai de Wesley, tinha muito medo da violência no Rio de Janeiro. Várias vezes perguntou se eu criaria meu neto, pois achava aqui mais tranquilo. Eu sempre disse que sim, desde que me ajudassem com as despesas. Minha ex-nora concordou que ele viesse, mas pediu para esperar as aulas acabarem para não prejudicar os estudos. Falei algumas vezes com Wesley pelo telefone e ele dizia que queria vir”, contou Severina.
O garoto é olindense e, segundo Severina, nasceu na casa em que ela mora atualmente. Vinha regularmente passar as férias com a família. A última vez foi no fim de 2007. Os avós maternos também moram no Estado, no bairro do Nobre, em Paulista. O estudante gostava de ir à praia, de brincar, de mexer no computador e era muito vaidoso, segundo os avós paternos.
Wesley foi morar com os pais em São Paulo quando tinha dois anos. “Logo depois, Ricardo se separou da esposa. Ela preferiu ir para o Rio de Janeiro, onde vive até hoje”, afirmou Severina. Como era muito apegado ao filho, o pai dele mudou-se para a capital carioca para não ficar longe da criança. Agora, com a morte do único filho, Severina acredita que Ricardo voltará para Pernambuco.
“Ele queria de todo jeito enterrar meu neto aqui. Mas o governo lá mandou minha ex-nora assinar uns papéis no IML e trataram logo do enterro. Quando Ricardo foi ver, não dava mais tempo de trazer o corpo de Wesley para cá”, explicou Severina. Ela tem outros cinco netos. Em junho, Ricardo ficou 20 dias com a família, em Olinda, quando reafirmou a intenção de mandar o filho para viver com os avós.
Foi o desabafo de Ricardo que deu o tom do clima de revolta que marcou o enterro do garoto, ontem de manhã, no Cemitério de Irajá. “Meu filho, agora, é só mais uma estatística para o poder público. O governo não liga para a gente, nenhuma autoridade veio aqui. O Estado não fez o seu trabalho, que era garantir o mínimo de segurança para o meu filho. Saí de Pernambuco para ver meu menino morrer no Rio. É muito triste”, lamentou.
Em estado de choque, a mãe do estudante, Isiane Rodrigues, teve de ser amparada pelo marido, padrasto de Wesley. Um grande número de funcionários e alunos do Ciep Rubens Gomes acompanharam o enterro.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública informou que todas as medidas vêm sendo tomadas para apurar a responsabilidade pela morte de Wesley. O comando da PM afastou o comandante do 9º BPM, coronel Fernando Príncipe Martins, determinou o envio das armas dos PMs que participaram da operação e instaurou uma sindicância interna. A bala que atingiu o menino já foi entregue a peritos.
O governador Sérgio Cabral disse que a estratégia da operação policial que resultou na morte do menino estava errada e pediu desculpas à família. “Só se faz uma operação como aquela, com troca de tiros, à luz do dia, com um Ciep funcionando, se for absolutamente impossível evitar. Não era o caso. Poderia ter sido feito em outro momento. Houve um erro na operação”, disse o governador ao Extra Online. “É preciso, antes de mais nada, pedir desculpas à esta família. Sou pai de cinco filhos e posso imaginar o que essa mãe, esse pai, enfim, os seus amigos e familiares estão sentindo. A melhor maneira de homenagear o Wesley é continuar a luta pela pacificação.”
Fonte: http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/grande-recife/noticia/2010/07/18/menino-morto-em-sala-de-aula-do-rio-por-bala-perdida-vinha-morar-em-olinda-229054.php
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