terça-feira, 10 de abril de 2012



Especialistas defendem que a oferta gratuita de imunização contra o HPV reduziria consideravelmente a ocorrência de tumores no útero. O Ministério da Saúde estuda a adoção da medida

» Márcia Maria Cruz - Correio Braziliense
Publicação: 09/04/2012 02:00


Belo Horizonte  — 
 a inclusão da vacina de vírus do papiloma humano (HPV) no Programa Nacional de Imunizações (PNI) pode representar a redução nos casos de câncer de colo de útero, a segunda maior causa de mortalidade entre as mulheres brasileiras. A boa notícia é que a introdução da vacina está em estudo pelo Ministério da Saúde. “A inclusão pode parecer um custo, mas representa um investimento em saúde. Pode parecer um dispêndio no momento, mas o governo vai economizar muito com os custos do tratamento do câncer no futuro”, defende Charles Pádua, diretor do Cetus Hospital-Dia, instituição especializada em medicina oncológica de Betim, na Grande Belo Horizonte. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que, em 2012, no Brasil, devem ser registrados 17.540 novos casos desse tipo de tumor — o equivalente a 17 casos para cada 100 mil mulheres. 

Na rede privada, há 14 anos, a vacina vem sendo aplicada em mulheres de 9 a 26 anos, e desde o ano passado o uso foi liberado também para homens na mesma faixa etária. A vacina quadrivalente, que combate os tipos do HPV identificados como 6, 11, 16 e 18, pode ser encontrada em clínicas particulares a preços que variam de R$ 300 a R$ 350 para cada uma das três doses. Embora o HPV, que se refere a uma família de vírus com mais de 200 tipos diferentes, seja associado às mulheres, ele pode causar nos homens o câncer de pênis, ânus e as verrugas ânus-genitais, conhecidas como crista de galo.

O alto custo da vacina compromete uma ampliação da cobertura da imunização. “Apenas 1% da população deve ter se vacinado, o que, em termos de saúde pública, não representa nada. Para reduzirmos a quantidade de vírus circulando, teríamos que proteger de 80% a 90% da população”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato Kfouri. Quando há vacinação em massa, mesmo que não seja a totalidade da população, é possível reduzir a circulação do vírus e até mesmo erradicá-lo. “Mesmo as pessoas que não recebem a vacina são protegidas indiretamente, porque se trata de imunidade de ‘rebanho’”, pontua. Na Austrália, onde a vacinação contra o HPV é uma política pública, houve redução expressiva no número de casos de câncer de colo de útero.

Verrugas 

Existem no mercado duas vacinas contra o HPV: a bivalente e a quadrivalente. A primeira protege dos tipos 16 e 18, causadores de 70% dos cânceres de colo de útero, e está indicada para mulheres. Já a quadrivalente combate também os tipos 6 e 11, responsáveis por 90% das verrugas genitais. Ambas oferecem proteção adicional contra outras variedades  causadoras de cerca de 10% dos cânceres do colo de útero. As vacinas dão ao organismo capacidade de gerar produção de anticorpos e proteção que chega a 99%. No entanto, não podem ser usadas como tratamento para quem já se infectou com o vírus. 

A importância da inclusão da vacina no PNI aumenta consideravelmente tendo em vista que ela é a forma mais eficaz de prevenção da doença, sexualmente transmissível. O vírus é passado de pele para pele, não sendo necessária a penetração para que haja o contágio. Isso faz com que o preservativo não seja a forma mais eficaz de evitar a doença. De acordo com Charles Pádua, entre 50% e 80% de homens e mulheres vão contrair o HPV em alguma época da vida. “A partir do momento em que o indivíduo inicia a vida sexual, está exposto”, diz. 

O oncologista acrescenta que há vários trabalhos científicos que comprovam redução na incidência de casos de cânceres de útero, vulva e pênis nos países onde houve a introdução da vacina. Alguns municípios brasileiros estudam a possibilidade de adoção da dose, no entanto, segundo Pádua, para que haja eficiência é preciso a implantação de um plano nacional. De acordo com o Ministério da Saúde, a inclusão de vacinas leva em consideração vários critérios, como o epidemiológico (prevalência e incidência da doença devem ser relevantes); o imunológico (a imunogenicidade proporcionada pela vacina deve ser de alta eficácia) e o custo. O ministério informou ainda que vem realizando debates técnicos sobre a introdução dessas vacinas no programa nacional. 

Hepatite B
A vacina contra a hepatite B pode contribuir também para a redução da incidência do carcinoma hepatocelular, o tumor maligno primário mais comum no fígado. “A vacina contra a hepatite B, doença transmissível sexualmente e pelo sangue contaminado, tem grande impacto na redução da incidência desse tipo de câncer”, destaca a presidente da Sbim-RJ, Isabella Ballalai. A vacina está disponível gratuitamente nos postos de saúde para homens e mulheres de até 29 anos. 

Pessoas acima dessa idade e não vacinadas ou que não sabem se já receberam a vacina podem ser imunizadas em clínicas privadas. São necessárias três doses para o desenvolvimento de proteção eficiente contra o vírus. Cerca de 90% dos recém-nascidos com vírus da hepatite B desenvolvem a forma crônica da doença. Por essa razão, é importante que os casais estejam vacinados contra a doença antes que ocorra a gestação. No bebê, a vacina deve ser aplicada preferencialmente nas primeiras 12 horas depois do nascimento. 

"Apenas 1% da população deve ter se vacinado, o que, em termos de saúde pública, não representa nada. Para reduzirmos a quantidade de vírus circulando, teríamos que proteger de 80% a 90% da população”

Renato Kfouri,

presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações

vírus
Os HPVs (vírus do papiloma humano) são da família Papilomaviridae, capazes de provocar lesões na pele ou na mucosa. Na maior parte dos casos, as lesões têm crescimento limitado e costumam regridir espontaneamente. Existem mais de 200 tipos diferentes de HPV. Eles são classificados como de baixo risco e de alto risco de câncer. Somente os de alto risco estão relacionados a tumores malignos. 
 
Incidência
A infecção por HPV atinge cerca de 630 milhões de pessoas no mundo. Estima-se que os tipos 16 e 18 do vírus causem de 40% a 50% dos cânceres de vulva e 70% dos cânceres vaginais, bem como 85% dos casos de câncer anal. 
 
Sintomas
O HPV pode permanecer no organismo sem qualquer sintoma por meses e até anos. Os tumores malignos, por exemplo, podem demorar de 10 a 20 anos para se desenvolverem.
 
Contágio

 A probabilidade de contágio também é alta, varia de 50% a 80%, e o vírus pode ser transmitido mesmo que esteja latente (sem manifestação visível). 
 
Vacina
A vacina quadrivalente contra o HPV é administrada em três doses, com aplicação intramuscular. A primeira pode ser aplicada em data escolhida, a segunda é administrada dois meses depois da primeira e a terceira, seis meses após a primeira. 

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