Por Jorge Serrão
A dedada eletrônica foi cruel com a esfincterocracia petralha. Lula não ganhou a eleição presidencial, facilmente, como desejava. Não emplacou seu poste Dilma Rousseff no primeiro turno. Será uma indicação de que voto de bêbado não tem dono? Ou talvez seja o eleitor ignorante que não se embriague tão fácil como era esperado.
Como diz o bebum no boteco, “passa a régua” no balcão, porque até 31 de outubro acontece outra eleição. Metáforas etílicas à parte, agora, o segundo turno será um festival de pedradas na vidraça do Palhaço do Planalto. A previsão é de algumas traições fatais, e muitos acordos que precisão ser digeridos goela abaixo.
José Serra ganhou uma sobrevida com seus 32,6% de votos. Caso se transforme em opositor de Lula – se assim for conveniente ao sistema que controla o Brasil de fora para dentro -, pode criar problemas para Dilma – que parece estar presa no teto eleitoral de 46,9%, como era previsível. Os tucanos também terão a nada fácil missão de abduzir a grande vencedora de ontem: Marina Silva. Os 19,33% de votos dados a ela – e não ao PV – serão o fiel de balança no segundo turno.
Não adianta ao alto tucanato negociar com a cúpula do PV. Marina ainda tem o gene recessivo petista, embora esteja magoada com seus antigos partidários e possa aproveitar a hora para dar o troco em humilhações passadas. Prova de que conquistar o apoio dela custará caro foi a manifestação logo após o resultado das dogmáticas urnas eletrômicas.
No melhor estilo assembleísta do PT, Marina defendeu a realização de “uma plenária de seu partido com segmentos sociais que estiveram com ela durante a eleição para definir quem apoiar”. Mais petista que isto impossível. Se depender dos tais movimentos, ninguém vai subir a Serra. As negociações vão render...
O papo de Marina ontem foi no melhor estilo petralho-gramiscista: “nossa decisão será uma decisão que não tem nada a ver com a velha política que se apressa em manifestar uma posição só para vislumbrar pontos lá na frente. Nós queremos um diálogo com o Brasil que interessa e vamos abrir um processo no nosso partido e com os núcleos vivos da sociedade que nos apoiaram, os empresários modernos, os professores e a intelectualidade”.
Outro grande vitorioso de ontem também pode fazer muita diferença no segundo turno. Aécio Neves se elegeu, emplacou Itamar Franco também no Senado e, milagre dos milagres, liderou a vitória acachapante do seu vice Antonio Anastasia ao Governo de Minas Gerais. A vitória, na conta do chá, de Geraldo Alckmin para o governo de São Paulo, junto com a eleição ao senado de Aloísio Nunes (velho motorista do carro do Carlos Maringuela nos tempos da dita-dura), é outro trunfo pró-Serra. Só falta agora ele virar oposição de verdade, para o segundo turno ter alguma graça.
A petralhada não está morta. Só está de ressaca porque não ganhou quando queria e precisava. Apesar da crista baixa,a máquina de propaganda petralha alegará que Dilma ficou na frente em 18 estados, enquanto Serra venceu apenas em 8 e Marina só conquistou hegemonia no Distrito Federal. O susto matemático é que a soma dos votos de Serra e Marina supera os de Dilma.
Apesar de toda a análise numerológica sobre o resultado dogmático das votação eletrônica de ontem, continua valendo a doutrina do Poder Globalitário. Não importa em quem votemos. O Brasil continuará governado por algum ou alguma marionete da Oligarquia Financeira Transnacional - que nos controla de verdade porque permitimos. A eventual vitória de Serra só muda o esquema de quem dará continuidade ao que FHC começou na década de 90 e Lula continuou até agora.
No Brasil, tudo parece que muda, para ficar a mesma coisa, na Sociedade do Crime Organizado. Pelo menos vamos nos divertir vendo o desgaste de muito bandido-político no picadeiro do segundo turno. Os linfomas que se cuidem. A metástase política pode estar mais próxima do que parece. Ou não... Aguardemos, serenamente, o desenrrolar da tragédia – como aconselha um caboclo amigo meu...
Melhor ficou só para o Tiririca, o milionário de votos. Pro resto, muita coisa ainda pode acontecer de mais pior...
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
Fonte: © Jorge Serrão. Edição do Blog Alerta Total de 4 de Outubro de 2010.
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