Segunda-feira, 14/12/2009
Valterci Santos/Gazeta do Povo
Na horta, além do contato com a terra e da alimentação mais saudável, conceitos de Matemática, Português e CiênciasHortas urbanas e cidadania no Nosso Quintal
Quatro amigos aproveitam um programa da prefeitura de Curitiba para melhorar a aprendizagem de cem crianças de 3 a 6 anos
Publicado em 14/12/2009 | Paola CarrielO “Nosso Quintal” foi criado para incentivar a criação de hortas urbanas e é destinado principalmente às famílias de baixa renda. Mas, no caso do grupo de amigos, a decisão de criar este espaço foi motivada pela solidariedade. E a convivência com a plantação mudou a rotina de cem crianças de 3 a 6 anos atendidas gratuitamente pela creche. Além de ter um alimento mais fresco, a horta virou uma extensão da sala de aula. “É como se não houvesse mais limites físicos para a aprendizagem”, afirma Dimas. Onze vezes por semana, as crianças aprendem a plantar, colher, cuidar da terra e respeitar o meio ambiente. Todo o material produzido é destinado para elas. O quarteto participa de uma igreja espírita que mantém a escola da criançada e resolveu fazer a sua parte.
O programa
Quatro mil toneladas de hortaliças
O programa “Nosso Quintal” foi criado pela Secretaria Municipal de Abastecimento na década de 80. No início eram atendidas apenas famílias que viviam no entorno das redes de alta tensão da Eletrosul. Hoje a iniciativa ajuda a complementar a alimentação de 7,8 mil adultos e mais de 5 mil crianças, produzindo 4 mil toneladas de hortaliças. A área urbana da cidade com hortas passa de 225 hectares. “Se você perguntar para que serve a terra a mil crianças, a maior parte vai dizer que é só para sujar os sapatos. Precisamos mudar este modelo. Se a terra acabar, nós morremos”, diz o coordenador do programa, o engenheiro agrônomo Mário Kunio Takashina.
O programa é destinado preferencialmente a pessoas de baixa renda, que recebem insumos e apoio técnico semanal. Mas a prefeitura passa informações a todas as pessoas interessadas.
Ao todo, 18 voluntários ajudam na manutenção do espaço. O próximo passo é construir um centro de convivência, um bosque para contação de histórias e instalar um sistema de captação de água da chuva para as hortaliças. A horta vem dando frutos. Uma professora de uma faculdade próxima vai usar as benfeitorias para sensibilizar estudantes que cursam pós-graduação em educação ambiental. Ari, Carlos, Dimas e Francisco desejam que o respeito pela natureza seja multiplicado.
Carlos diz que com o projeto eles aprendem a deixar para trás o egoísmo. Além disso, ele pôde retomar o contato com a natureza. O artista morava em um sítio em Rondônia, onde o vizinho mais próximo ficava a 30 quilômetros. Hoje em um apartamento, ele diz que precisava sentir de volta o tempo da natureza. “É bom ver o sol esquentando, sentir o cheiro das plantas. São coisas que só a simplicidade do meio ambiente oferece.”
O irmão dele, Francisco, afirma que a comunidade já está engajada no projeto. Dia desses, uma senhora japonesa de 92 anos foi conhecer o local. “Ela deu dicas e disse que estamos no caminho certo. Foi um aprendizado.” Outro dia um rapaz com esquizofrenia descobriu o lugar e vai para lá como forma de complementar a terapia.
Dimas conta que, ao levar as crianças para a horta, as professoras trabalham disciplinas como Matemática, Português e Ciências. A creche montou um projeto de alfabetização pedagógica e todos os professores estão envolvidos. “As paredes da escola deixaram de existir. É uma nova ferramenta de trabalho.”
Caio Borges, Jonatham Calixto e Cecília de Costa, todos com 6 anos, divertem-se com a experiência. Estão aprendendo o nome de hortaliças antes desconhecidas na mesa e aos poucos começam a mudar os hábitos da família. Mas o que eles mais aguardam é o bosque de contação de histórias, para ouvir contos sobre a natureza..
Gazeta do povo 14/12 às 12:43
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